Fogo, vento e água viva são os símbolos mais potentes
usados na Bíblia para descrever a presença do Espírito Santo e de sua força
criadora. São símbolos do movimento constante e do fluir silencioso dos
processos que gestam a vida.
No relato da Criação, o Espírito que “pairava” sobre as
águas (Gn 1,1) é a imagem da vibração divina que habita e se move no coração de
tudo que existe. O Espírito é a respiração universal e daí brotam
maravilhosamente todas as formas de vida.
Cada dia é o primeiro dia da Criação. A Criação está se
renovando a cada instante e uma Energia profunda e criativa nos acompanha, nos
anima e nos move. Estamos sendo criados; não estamos prontos e abandonados, não
estamos condenados a um plano predeterminado. Em tempos de Pentecostes, é bom
dizer a nós mesmos: “Somos criaturas, estamos sendo amorosamente criados e
impulsionados a criar. Há esperança”.
Hoje podemos agradecer pela presença do Espírito nos
perfumes que a humanidade exala: no seu empenho pela paz e justiça; na
contribuição à integridade da vida; na ternura, colaboração e no cuidado; na
resistência a todas as forças que desintegram a vida; no diálogo e na abertura
às diferentes culturas e tradições espirituais.
A imagem do “soprar sobre eles”, no Evangelho deste
Domingo, contém uma riqueza elegante: significa compartilhar o que é mais
“vital” de uma pessoa, sua própria respiração, seu mesmo espírito. Por isso, a
comunidade dos seguidores de Jesus, ao compartilhar com Ele o mesmo Sopro,
torna-se uma comunidade que “com-inspira”, “respira junto”. Ao soprar o
Espírito, Jesus e os discípulos respiram o mesmo ar, o mesmo sonho, a mesma
utopia do Reino. Por isso, não é estranho que, com o Espírito, Jesus se refira
à missão: é o mesmo Espírito, o seu sopro, que O conduziu e quer conduzir a nós
também.
Temos de viver a partir do Espírito, transformando e
vitalizando nossos gestos, pensamentos, compromissos e encontros. Por isso,
Pentecostes não acontece até que, reconhecendo o Espírito como nossa Identidade
mais profunda, nos deixemos guiar por Ele, ou melhor, viver a partir d’Ele.
Assim, celebrar a festa de Pentecostes é celebrar nossa própria vida e
Identidade.
Padre Adroaldo
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