A Quaresma é uma estrada que leva a um destino seguro:
a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a
morte. O cristão é chamado a voltar-se para Deus “de todo
o coração” (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida
medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor.
A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos
a vida espiritual através do jejum, oração e esmola. Na base
de tudo isso está a Palavra de Deus, que somos convidados
a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui
queria deter-me, na parábola do homem rico e do pobre
Lázaro (cf. Lc 16, 19-31).
1. O outro é um dom: Na parábola, o pobre aparece
descrito detalhadamente. Encontra-se à porta do rico na
esperança de receber migalhas. Tem o corpo coberto de
chagas, que os cães vêm lamber. O pobre se chama Lázaro,
que significa “Deus ajuda”. Enquanto Lázaro é como que
invisível para o rico, a nossos olhos parece familiar, possui
um rosto. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta
a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo.
2. O pecado nos cega: O rico não tem um nome. A sua
opulência manifesta-se nas roupas de luxo exagerado e na
exibição habitual: “Fazia todos os dias esplêndidos banquetes”.
Sua ganância o faz vaidoso. A sua personalidade vive
de aparências, que servem de máscara para o seu vazio
interior. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas,
nada mais existe além do próprio eu. Assim o fruto do apego
ao dinheiro é uma espécie de cegueira: o rico não vê o
pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua humilhação.
3. A Palavra é um dom: Tanto o rico como o pobre
morrem, e a parte principal da parábola desenrola-se no
Além, onde os dois personagens descobrem que nada levaram
do mundo (1 Tm 6, 7). No Além, o rico conversa com
Abraão, a quem chama de “pai” (Lc 16, 24.27), mostrando
fazer parte do povo de Deus. Esse detalhe torna ainda mais
contraditória a sua vida, porque nela não havia lugar para
Deus, sendo ele mesmo o seu único deus.
Só nos tormentos do Além é que o rico reconhece Lázaro
e lhe pede água. Abraão, porém, explica-lhe: “Recebeste
os teus bens na vida, enquanto Lázaro recebeu somente
males” (v. 25).
No Além, restabelece-se uma certa equidade,
e os males da vida são contrabalançados pelo bem.
Mas a parábola continua e o rico, que ainda tem irmãos
vivos, pede a Abraão que mande Lázaro avisá-los; mas
Abraão respondeu: «Têm Moisés e os Profetas; que os
ouçam» (v. 29). A raiz dos males do rico é não dar ouvidos
à Palavra de Deus. Isso o levou a deixar de amar a Deus
e, consequentemente, a desprezar o
próximo.
Amados irmãos e irmãs, rezemos
uns pelos outros para que, participando
na vitória de Cristo, saibamos abrir
as nossas portas ao frágil e ao pobre.
Então poderemos viver
e testemunhar em
plenitude a alegria da
Páscoa.
Papa Francisco
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