Estas palavras acompanham a imposição das cinzas sobre nossas
cabeças na Quarta-feira de Cinzas, marcando o início de nossa caminhada quaresmal
que deve ser de conversão que leva à fé, conforme nos exorta oprofeta Joel:
“Voltem para o Senhor, seu Deus” (Jl2,13).
A Quaresma não é um fim em si mesma, mas caminho que termina na Páscoa
do Senhor, que é a vitória da vida sobre o mal e a morte. Este é o caminho que
devemos trilhar impulsionados pela esperança que ilumina nossa vida e anima
nossa fé.
Marcada pelo recolhimento, pelo
silêncio, e pela reflexão orantes, a
Quaresma não pode ser confundida
como um tempo de tristeza ou de luto.
Ela é tempo da graça de Deus
que escancara suas entranhas de amor e misericórdia infinitos.
É momento privilegiado do encontro com o
perdão que nos reconcilia com Deus, com os irmãos e irmãs e com as criaturas.
Nossa vivência quaresmal deve,
portanto, ter como primeiro distintivo a oração confiante e fervorosa que
nos leva ao encontro do Deus amoroso que jamais deixa de atender às
necessidades de seus filhos e filhas.
Uma oração que se traduza
mais na atitude de escutar que de falar, mais na entrega e no abandono à
vontade de Deus que na exigência dos próprios desejos.
Uma oração que nos faça sair de nós mesmos para ir ao encontro do
outro e, nele, encontrar Deus. A oração
nos desnuda diante de Deus e nos faz perceber nossas forças e fraquezas.
Revela-nos a necessidade de autodomínio sobre nossos impulsos e desejos
contrários à santidade para a qual somos vocacionados.
Coloca diante de nossos olhos a dor e o sofrimento de tantos
irmãos e irmãs que, por causa da ganância
e do egoísmo humanos, gritam por vida e amor. Compreendemos, assim,
que devemos nos penitenciar por nossas indiferenças e omissões. Isso se dá por
meio de um jejum que vai além de se abster da comida, mas que se traduz,
sobretudo, na solidariedade com os pobres (cf. Is 58,6-8).
A prática do verdadeiro jejum torna-nos compassivos com nossos irmãos
e irmãs, levando-nos à prática da
verdadeira caridade que liberta e salva.
Uma caridade que vai além da justiça
porque nos faz olhar o outro com compaixão e nos move a servi-lo a partir de
sua necessidade. Pela caridade, fazemo-nos próximos de quem está entre a vida e
a morte, vítima do sistema que assalta e mata (cf. Lc 10,33).
Nesta Quaresma, deixemos ecoar em nossos corações o apelo da
conversão e, decididamente, trilhemos o
caminho da santidade fazendo-nos o último que serve a todos (cf. Mc 9,35).
Pe.
Geraldo Martins
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