Por: Pe. Geraldo Martins
A pandemia do novo coronavírus provocou mudanças
inimagináveis na sociedade mundial. Ninguém poderia prever que, por qualquer
razão, os governos de nações do mundo inteiro determinariam o isolamento social
como medida para salvar vidas diante de uma doença que já matou centenas de
milhares de pessoas em todo o mundo.
O isolamento social se sobrepôs ao direito humano de ir e
vir para assegurar às pessoas seu direito fundamental e irrenunciável à vida.
Perita em humanidade, como afirmou São Paulo VI, e defensora da vida em todas
as suas manifestações, a Igreja não poderia se opor a essa medida, dura e
exigente, porém, necessária e inevitável por se tratar de defender a vida.
Por causa do afastamento social, as portas das igrejas foram
fechadas e as famílias foram convocadas a voltar à origem do cristianismo e
recuperar a prática da Igreja nas casas quando os cristãos se reuniam, em
família, e eram “perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão
fraterna, na fração do pão e nas orações” (At 2,42). Redescobrir que a primeira
igreja onde viver e testemunha a fé é a família faz-nos compreender que quem
consegue ser cristão somente a partir do templo precisa repensar seriamente sua
fé.
Celebrando a “missa sem povo”, os padres lançaram-se, então,
no mundo virtual para o qual transferiram sua igreja, reunindo, pelas redes
sociais, seu rebanho a fim de alimentá-lo com o pão da Palavra que anima a
esperança e fortalece a fé. Uma experiência nova para a grande maioria dos
padres e dos católicos.
Celebrar numa capela ou igreja, grande ou pequena,
totalmente vazia, olhando o tempo todo para uma câmera, exige transcender o
espaço físico e migrar para outro espaço ocupado não se sabe por quem nem por
quantos. A sensação de que se celebra sozinho, no entanto, é quebrada com o testemunho
dos que, tocados pela celebração, relatam o bem que lhes fez aquela celebração,
ainda que virtualmente.
Uma pergunta que muitos se fazem, nesse momento, é esta: “Que
Igreja emergirá de tudo isso que estamos vivendo?”. A mesma pergunta se pode
fazer também em relação à sociedade, às famílias, às instituições. Que lições
tirar desta pandemia que nos obrigou a comportamentos tão diferentes?
Ajudam na busca de respostas as palavras do papa Francisco:
“A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas
e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos
projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido
e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa
comunidade”.
No nível eclesial, estou certo de que a grande lição é que
não existe uma única maneira de viver a fé e que, para sua sobrevivência, é
fundamental redescobrir a família como Igreja doméstica.
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