Poderíamos reduzir o cristianismo a um mundo de observâncias: fazer isso e aquilo, cumprir essa e aquela obrigação religiosa. Se formos pessoas bastante distraídas, talvez até essas coisas nos permitam viver em paz de espírito. Mas se você tiver um mínimo de percepção da realidade social do nosso mundo, não irá ficar tão em paz assim.
Pois, como permanecer em paz sabendo que grande parte das riquezas produzidas no mundo vai para as mãos de poucas pessoas? Como permanecer assim, sabendo que os esforços de bilhões de seres humanos vão parar nas contas dos grandes empresários espalhados pelo mundo e que a maioria dos governos faz concessões bilionárias para eles; que a justiça legisla interminavelmente a seu favor; que as leis são feitas, muitas vezes, sob pressão exercida por eles, para benefício próprio?
Como poderemos nos dizer cristãos e ficar tranquilos quando os filhos de Deus, irmãos nossos, têm que sustentar sua família com um salário mínimo porque a maior parte das riquezas será utilizada para que os mais ricos comprem casas ou apartamentos milionários, obras de arte caríssimas, iates e coisas semelhantes?
Vemos os sindicatos perderem força e não mais atuar em defesa dos trabalhadores; vemos políticos legislando em causa própria, na calada da noite, nos conluios com os poderosos, e não perdemos a paz? Como poderemos nos sentir cristãos plenos?
Vemos os empresários querendo abrir seus comércios aos domingos e não nos importamos que os cristãos que neles trabalham já não consigam mais ir às missas ou encontrar com seus familiares, e achamos muito normal, até mesmo moderno?
Como poderemos não perder a paz diante da inoperância da sociedade e dos governos, diante da calamidade das drogas a ceifar milhões de vidas jovens?
No Brasil, em nome de certo tipo de progresso, constroem usinas hidroelétricas a preço do desamparo de milhares de indígenas e populações ribeirinhas; matam-se as florestas por ganância extrativista e exploração de agronegócios. Ao povo, aos cristãos, só caberá mesmo dizer amém?
Todos os tempos, de modos diversos, sempre serão para os cristãos, tempos de profecia. A profecia é a voz de Deus gritando pela boca e pelo posicionamento daqueles que nele creem. A profecia será sempre o fruto maduro da percepção da inconformidade entre o projeto de Deus e a realidade desfigurada pela ambição humana.
Cristão, levante sua cabeça e sua voz, pois é tempo de profecia!
Pe Walter
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