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sábado, 14 de março de 2015

Eis que a Páscoa de Cristo se faz urgente para uma cidade marcada pela morte!

Por Paróquia São João Batista   Postado As  04:33   Sem Comentários


Estamos consternados e assustados: são mais de sessenta mortes por homicídios em dois anos em Viçosa. Números de guerra a que estávamos acostumados apenas longe de nós. Tiros, corpos no chão e nas fotografias (impróprias) dos jornais, medo e tristeza mortal em muitas famílias.
O que está acontecendo? Esta é a pergunta que nos tem deixado aturdidos, porque as respostas são muitas e, em grande parte, inconclusivas e insatisfatórias.
Na tentativa de colaborar, proponho refletir a partir de outra pergunta: como chegamos a isto? Tal caminho me parece mais viável, uma vez que nada acontece por acaso. Acredito que tal pergunta nos ajuda a pensar que, de alguma forma, todos somos responsáveis pelas situações nas quais vivemos.
Obviamente, por ser padre, não quero oferecer reflexões de cunho sociólogo, psicológico ou oriundas de outras ciências humanas também necessárias, mas pretendo contribuir com reflexões que vêm do campo da fé.
Há uma música que gosto, cujo refrão diz: “A paz que é tão sonhada, cantada em canções tão lindas, só chegará até nós quando ouvirmos a voz do Senhor”. Assim, inicio esta reflexão apontando para este caminho: ouvir a voz do Senhor.
São Tiago nos diz na Bíblia que a “fé sem obras é morta”. Portanto, ouvir a voz do Senhor não é apenas afirmar que se tem fé, mas colocá-la em prática na vida, como ensinou Jesus em Mt 7,21 “não é aquele que me diz Senhor, Senhor que entrará no reino dos céus, mas sim, aquele que ouve a Palavra de Deus e a põe em prática”. Jesus, nesta palavra, diz que só uma pessoa sem juízo constrói a sua casa em cima da areia; o que significa deixar de construir a sua vida sobre a Palavra dele. A pergunta que podemos então fazer a nós mesmos diante da realidade que nos envolve é se não estamos construindo nosso mundo em cima de areia.
Quando uma sociedade permite festas com bebida liberada para adolescentes e jovens muito jovens, não está construindo sobre a areia? Quando jovens escolhem (e lhes é concedido) viver sem qualquer limite, tornando-se reféns de todo tipo de desejos; quando vemos o número alarmante de crianças que tem nascido de relacionamentos sem qualquer compromisso e que crescerão em lares despreparados para acolhê-las, não é também construir sobre a areia? Basta apenas fazer leis obrigando a distribuição de camisinhas e continuar veiculando a ideia de que o sexo seja uma fonte de diversão a ser usufruída sem nenhum comprometimento?
Nestes anos em que sou padre, tenho visto que apenas uma minoria dos pais se esforça de verdade por oferecer o horizonte de uma fé viva a seus filhos. No entanto, o que percebo é que é muito fácil a pessoa perder o sentido último das coisas, o significado profundo do amar, do perdoar, do respeitar ao outro como um irmão, se não tem algo que a transcenda, que vá além das aparências do que se vê. Há muitas coisas que fazemos ou que deixamos de fazer unicamente porque temos fé. Sem ela, até matar alguém pode ser racionalmente justificável. Não oferecer a alguém condições para o desenvolvimento da fé não seria também construir sobre a areia?
Entre tantos caminhos possíveis nesta reflexão, cito, para terminar, a falta de juízo do nosso mundo em relação ao dinheiro. Submeter a natureza, o exercício da profissão, os sonhos das pessoas ao dinheiro é, sem dúvida, construir sobre a areia. E como temos sido sem juízo neste ponto! Quando não se paga salários justos, ficando-se com a maior parte dos lucros, forçando famílias a viver em condições de pobreza não é senão fabricar bombas-relógio com tempo marcado para explodir; quando se transforma crianças e jovens em consumidores vorazes, mesmo que não tenham condições econômicas para sê-lo; quando se toma o poder político para fazê-lo servir ao poder econômico de certos grupos não é viver como uma sociedade sem juízo que verá a sua casa ruir certamente?
Sim, nestas reflexões quero concluir que chegamos até aqui porque viemos caminhando nesta direção. Não foi fruto do acaso o que estamos vendo (e que pode ser apenas o começo!), mas de escolhas que fizemos. Nosso mundo está doente porque não tem colocado em prática o que Cristo nos ensinou e precisa urgentemente de cura, como continua a música que citei, “mas é tempo de mudança, de voltar para o Senhor, e de se cantar com a vida que mais forte é o amor!”.
“Que Jesus Cristo ressuscitado nos possibilite renascer com Ele em sua Páscoa para a vida livre e verdadeira, distante dos horizontes da tristeza da morte!”
Feliz Páscoa a todos!

Pe Walter

Sobre o autor

Paróquia de São João Batista - Viçosa - MG

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