“Quem é meu próximo?” (Lc 10, 29)
Os personagens da parábola (um homem, assaltantes, um levita, um sacerdote, um samaritano) aparecem designados por sua função social: uns com prestígio e outros no mundo marginalizado.
Quem ocupa o centro do relato é um desconhecido. “Um homem” que representa cada humano necessitado, vítima. Todos os demais personagens aparecem em relação a ele: os bandidos o atacam; o sacerdote e o levita passam indiferentes; o samaritano se aproxima e cuida dele.
O sacerdote e o levita seguem adiante pelo outro lado. As normas de pureza proibiam-lhes contaminar-se pelo contato com a morte, a fim de participar do culto. Ambos não se comprometem e isso os faz aliados dos bandidos, sob o signo da exclusão.
O bom samaritano vai além da ordem social, moral ou religiosa e, por isso, age como irmão: “Viu-o e teve compaixão” (sentimento que aparece na Bíblia referindo-se a Deus e a Jesus). Para o samaritano, a vida é mais importante do que prosseguir viagem.
O samaritano não organiza um socorro à distância, não se afasta em busca de reforços, mas põe mãos à obra: cuida de suas feridas, o levanta e o carrega sobre sua cavalgadura; caminha ao lado por quilômetros e quilômetros e o entrega ao administrador da pousada.
O primeiro grande Samaritano foi o Filho de Deus feito homem. Ele, em primeiro lugar, se deteve misericordiosamente junto a nós pecadores, descendo de sua “cavalgadura” e fazendo-se nosso companheiro de viagem.
Essa parábola tem consequências éticas e políticas. Nossa compaixão deve estar perpassada de indignação ética, porque não há compaixão sem justiça. A compaixão é sinal de identidade humana e divina, porque parecer-se com Deus implica ser e atuar compassivamente.
A parábola é uma exortação à misericórdia e à denúncia. Meu próximo não é só o que merece minha ajuda, mas também aquele que deve ser denunciado porque não se compromete e deixa as coisas como estão.
A conclusão da parábola é um programa de vida. A partir das atitudes do samaritano, é o próprio Jesus quem nos diz: “Vá e faz o mesmo”.
Padre Adroaldo
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