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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A Escola da morte

Por Paróquia São João Batista   Postado As  07:38   Sem Comentários


Tadeu nasceu em uma família pobre. Seus pais tinham que trabalhar o dia todo, pois ambos ganhavam muito pouco para sustentar a família, com outros quatro filhos. Entregue quase o dia todo ao cuidado da avó, também muito ocupada com tantos afazeres domésticos e sem a força necessária para educar o menino, Tadeu cresceu entregue às ruas. Das horas em que passava na escola pública, as que mais lhe interessavam eram a da merenda e a do recreio, aonde junto com outros meninos ia recebendo a “verdadeira” educação que mais tarde o dirigiria na vida.

Muita música funk nos celulares e o estilo “ostentação” dos garotos mais velhos deixavam-no maravilhado com o mundo que lhe ia sendo apresentando, e para ele, muito mais atraente do que aquele que a velha avó e as catequistas insistiam em afirmar ser o “mundo do bem”.

Carente de quase todo tipo de recurso, a escola não conseguia imprimir em seu espírito os necessários valores éticos e as noções mais básicas de cidadania desmoronavam frente à selvageria que destruía carteiras escolares, quadros negros e paredes. Os professores, mal remunerados e com a motivação quase inteiramente destruída pelo descaso governamental pela educação, não conseguiam fazer  sombra à triste “escola da vida” na qual Tadeu ia sendo “educado”.
Após a saída da aula, com rápida passagem em sua casa para almoçar na frente da TV, 

Tadeu, aos 11 anos ia conviver com a turma da esquina (pois o abandono do Estado não oferecia nenhum outro espaço), composta em sua maioria de adolescentes de várias idades, alguns já acima dos 18 anos. Ali, seu fascínio era total quando ouvia os mais velhos relatarem as aventuras do último final de semana, quando, com suas motos (algumas roubadas, outras compradas com dinheiro de pequenos tráficos ou pelos pais, sob ameaças ou coações de todo tipo), desafiavam a vida urbana, ensurdecendo as pessoas pela retirada dos escapamentos, em altas velocidades, às vezes correndo da polícia quando de algum pequeno furto ou da descoberta do ponto de drogas.

Tadeu ficava extasiado quando a conversa chegava ao seu clímax, quando os meninos relatavam (muitas vezes fantasiando, mas outras com relatos verdadeiros) as “pegações” nos bailes funks, tanto de meninas novinhas e até de algumas mulheres casadas, que se aproveitavam da disponibilidade dos meninos, que lhes permitiam realizar suas fantasias a baixo custo.

Embalado pelas conversas da esquina e pelo assédio vergonhoso da TV, incitando a todo tipo de consumo e também dos desvarios das novelas e filmes, Tadeu sonhava com a sua chegada a este mundo formado pelo brilho dos grossos cordões, das tatuagens que marcariam as aventuras vividas, da adrenalina das fugas nas perseguições da polícia, da violência do enfrentamento das gangues. Um dia, pensava, seria respeitado em sua comunidade, pois dominaria as “bocas de fumo”; teria o amor das menininhas e olharia com desprezo a sociedade que o desprezara ao longo de sua vida. Um dia, não teria que se sentir inferior aos “brancos” riquinhos que frequentavam as festas regadas a bebidas (e outras drogas) liberadas. Um dia, não teria que usar marcas famosas falsificadas e desfilaria num desses carrões que a tela da TV lhe mostrava de forma deslumbrante...

Do lado do caixão, com os olhos marejados, a avó de Tadeu sente o punhal da dor lhe atravessar o coração e o amargor da derrota de não ter conseguido imprimir os valores de sua fé àquele coração de apenas 16 anos, que agora não bate mais. Do outro lado, sua mãe num pranto entre desesperado e histérico, lhe fazer dizer coisas sem sentido, como uma enxurrada de palavras que não foram ditas pela falta de tempo ou de horizontes. Em torno, as poucas pessoas presentes conformadas com mais uma morte antes do tempo, contemplam uma cena que já lhes parece comum pelo número de repetições.

Tadeu foi morto como um inseto indesejado, cuja morte não se lamenta, apenas torna-se estatística no mapa da violência de nossas cidades. Sua morte e seu nome logo serão esquecidos; ficarão apenas cicatrizes profundas no seio de sua família. Em sua turma, cuja ausência foi notória no velório, outros meninos estão sendo preparados na escola da morte.

Pe. Walter

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Paróquia de São João Batista - Viçosa - MG

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