Ao final da festa de São João Batista, fui comprar frango com quiabo, meu prato favorito, e a pessoa que estava na barraquinha me serviu duas coxas de frango. Com a fome que eu estava, sentia como se tivesse ganhado um grande presente e repetia para mim mesma: “como é bom ter privilégios”.
Eu nunca soube se eu tinha recebido aquele presente por acaso ou porque era o final da festa e queriam acabar com toda a comida ou se, ainda, foi porque quem me serviu era meu amigo. O fato é que eu me senti muito privilegiada. Foi tão bom!
A tentação de querer tratamento especial na Igreja é muito humana e já tem aproximadamente dois mil anos de idade. Isso fica bem evidente quando João e Tiago pedem a Jesus: "Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda" (Mc 10, 37).
Jesus não atribuía privilégios nem à própria mãe. Quando alguém lhe diz sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, querendo falar com Ele, Jesus responde: “meus irmãos e minha mãe são todos aqueles que fazem a vontade do meu Pai” (Mt 12, 46-50).
Com essa resposta de Jesus, aprendemos que mais importante do que sua relação de sangue com Maria é a relação de fé. Essa relação agora é estendida a todos nós. Maria foi grande porque teve fé e fez a vontade de Deus: “Bem-aventurada és tu que creste” (Lc 1, 45). É isso que precisamos fazer: acreditar e deixar que a Palavra ganhe vida em nós!
Então, para todos os que trabalham ou não na igreja não há horário nem local especial para atendimento, batizados ou casamentos. No reino não há privilégios: Quem quiser ser o maior tem que aprender a servir mais.
Felizes seremos se acreditarmos e arregaçarmos as mangas para a construção do reino, colocando a Palavra de Deus em prática. Se o “Pai do céu faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos (Mt 5, 45), também na igreja estamos todos sujeitos às mesmas normas e regras.
A busca do poder, do querer tratamento especial, do aparecer aos olhos dos outros é uma grande tentação que precisamos vencer a cada dia. Como destaca Bento XVI: "Não é fácil entrar na lógica do Evangelho e deixar a do poder e da glória".
Cida Zolnier
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