Quem conhece apenas a superfície das águas do mar verá apenas um ambiente ora agitado por ondas e ventos, ora na calmaria. Quem, por outro lado, conhece também o fundo do mar sabe que o mesmo possui uma beleza extraordinária, um mundo fantástico, povoado por milhares de criaturas e com coloridos deslumbrantes.
Quem estivesse no fundo do mar, fazendo um mergulho submarino, mesmo sabendo das enormes ondas na superfície, experimentaria a calma daquelas profundezas paradisíacas.
Assim também acontece na vida espiritual: pessoas que possuem profunda vida espiritual não vivem à mercê das situações muitas vezes atribuladas e dramáticas da vida em seu cotidiano. Mesmo que não fiquem isentas de problemas, porque ninguém pode passar sem tê-los, elas não vivem à mercê deles; elas não vivem desesperadas ou deprimidas por ter que enfrentá-los.
A espiritualidade sólida, profunda, confere à pessoa aquela serenidade e fortaleza de ânimo que a fazem experimentar uma verdadeira paz mesmo diante de grandes desafios. Não porque essa pessoa viva a indiferença em relação aos sofrimentos, mas porque sua vida não é formada pelas águas agitadas das superfícies, onde as ondas batem e os ventos assustam; mas também porque ela é formada pelas águas profundas, onde a beleza da presença divina se faz sentir, conferindo paz na adversidade, segurança em meio ao perigo, alegria que não depende apenas de não se ter sofrimentos.
A vida espiritual, ou seja, a experiência profunda com o Deus da vida, assim como o fundo do mar, permite vislumbrar um mundo de beleza extasiante; permite perceber que a vida é feita de realidades muito mais belas do que aquelas que estão na superfície. A experiência de Deus possibilita à pessoa não viver ao sabor das ondas agitadas do mar da vida, ser arrastada de um lado para outro, pois é ela que permite avaliar corretamente os sentimentos, equilibrar os relacionamentos com as pessoas e as coisas e conferir o devido valor aos acontecimentos.
Sem a arte do mergulho, nunca poderemos conhecer a beleza do fundo do mar, teremos que nos contentar em conhecê-lo apenas em sua superfície tão facilmente agitada. Sem a espiritualidade, nunca poderemos conhecer a verdadeira felicidade.
Padre Walter
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