O Natal lembra-me o cheiro de doces que se espalhava por toda a casa na última semana do Advento. O leite quentinho vindo do curral ia direto para o tacho em cima do fogão de lenha que minha mãe ficava por horas a mexer com uma longa colher de pau. Ansiosos, aguardávamos o grande momento de, finalmente, poder raspar o tacho. Do coco saboreávamos as casquinhas, já que todos os doces eram guardados para o dia 25.
Natal tinha cheiro e gosto de doce de figo! Apanhar figos do quintal, raspar, curtir por dias para depois sentir aquele cheiro inesquecível quando era, enfim, hora de acrescentar o açúcar e engrossar a calda.
Meu pai juntava a meninada para ir buscar bambu, serrar e fazer os canudinhos. Com a massa pronta e aberta com uma garrafa, enrolávamos os canudos que iam pra gordura quente. Em cima do doce, tinha o queijo ralado, também feito por minha mãe.
Natal era assim, não tinha presentes, mas tinha uma família envolvida em um projeto: se preparar para receber Jesus. Tinha um monte de crianças reunidas em volta de um fogão de lenha, dispostas a saborear cada delícia que sobrasse ou ficasse imperfeita. Para o Natal, tudo tinha que ser perfeito. Para Deus, sempre o melhor!
Natal é tempo de doces! Tempo do amor de um Deus menino que veio nos abraçar. Que veio sofrer nossas dores, mas também viver as doçuras reservadas aos humanos: o leite quente da mãe, o calor de seus braços, a alegria de ter uma família, o acolhimento dos amigos.
O amor é doce! O perdão é doce! O perdão tira da boca e da alma o amargo do ressentimento. Se até Deus veio do alto para nos resgatar de nossas faltas, como não perdoar os irmãos? Perder a salvação por teimosia e mágoa? Jesus, que conheceu o calor do colo da mãe, nos ensina que ainda melhor é o colo de Deus!
Que o Natal de Jesus possa nos encontrar, a cada ano, mais doces, mais abertos ao perdão. Que nossos corações e palavras sejam cada vez mais doces! Que o amor do Deus da doçura nos envolva e nos contagie ao longo do ano novo!
Feliz e doce Natal!
Cida Zolnier
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